terça-feira, 7 de abril de 2009

BILHETE AMASSADO SOBRE A ESCRIVANINHA

4hs:49min da manhã
Estou tão banguela e perplexa, tão mendoim e patty pimentinha, que só consigo seguir em frente, vendo um Snoopy por dia.
Aí, coloco a camisa, a calça e o sapato preto, me penduro embaixo do guarda-chuva e como uma Macha contemporânea, caminho a passos largos, sem saber pra onde estou indo. Pego o metrô, vou ao trabalho, escrevo, faço exercícios físicos e consigo até comer um ovo estrelado.
Tudo isso é de um vazio tenebroso. O rosto de Muna - garotinha da infância, sentada à meu lado na carteira escolar - ameniza essa dor, com seus precoces cabelos grisalhos. Uma anciã-juvenil pedindo à mão ao menino mais comprido e sensível da escola. Ela pede à mão ao único que compartilha de seu medo. Ela só está segura com ele; o garotinho febril. E entre uma estação e outra, só essa lembrança faz sentido, comprimida que estou no vagão diário. A multidão não tem olhos e nesse deserto de Munas, quase peço à mão ao velho que dorme, cabeça pendida e nenhum dente. Os banguelas são solidários. O Charlie Brown sabe todas as respostas e eu me irrito, porque não sei nenhuma. E mesmo assim sigo. E mesmo assim preciso continuar.
E agora, depois de outra dose - a terceira parte de "Charles Brown é o maioral!" - , me abasteço para o restante do dia, e acabei chorando ao rever: A Garotinha Ruiva.
Que puxa!
Quando é que isso vai passar?
Acordo pensando em comprar uma casa bem longe daqui, no alto da montanha. Ou em ir pra uma ilha, a do Drummond - que diz, alías, que fugir não é nenhum crime, pelo contrário, o mundo hoje exige que o homem se consuma nas labaredas de um sofrimento ininterrupto, sem ter espaço pra essa ilha, pra esse intervalo - e lá, estaria salva, no meu refúgio revelador e eu poderia até acordar cedo e ler à luz de velas. Lá, com certeza não teria eletricidade. A luz é uma das grandes culpadas por me distanciar cada vez mais, e sem nenhuma cerimônia, de mim mesma. E eu levaria um cadela como o Snoopy, um beagle. Que daria muito trabalho e se perderia pela ilha, atrás dos cachorros mancos, como Muna, ela gosta dos machos frágeis. E me faria retornar. Ela cruzaria, fora do cio também.
Regredi. Devo estar agora com uns cinco anos. Só não uso uma chupeta, porque o pudor, me impede.
O Jeremias vomita pela casa, contaminado pelo meu mau humor.

Desculpe a lamúria. Não vai fugir. Os homens fogem levando a mamadeira, quando as mulheres choram.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ei Glória,
Tome a minha mão, se quiser, eu até prego o quadro na parede para você...