quinta-feira, 7 de abril de 2011

No Coração das Trevas de Realengo

"Os impuros não poderão me tocar sem luvas." Wellignton Menezes de Oliveira
Fenda.
Mundo Cingido.
Esquizofrenia.
- Ah, é só uma fase. Ele é esquisito mesmo - dizemos enquanto nos afastamos, apressados.
Ato irresponsável e descriminador.
Sim, tenho pena do menino que atirou nas doze crianças. Aprender a olhar os dois lados. Que foi um crime bárbaro e cruel é o óbvio ululante. Ele é um monstro ponto. Ponto. Ponto e vírgula. Reticências. Interrogação. Dois pontos? Melhor mudar o assunto. Rápido. Estamos todos tão inebriados no lodo do horror que não ousamos levantar nossas vistas turvas e pesadas pela preguiça. Infelizmente, a realidade é um pouquinho mais complexa e exige certo esforço de compreensão. Não basta dividir a humanidade entre bons e maus. Se fosse assim, o teatro não existiria. Nem a literatura. Sinto que esse rapaz foi negligenciado. A sociedade precisa encarar seus fantasmas de frente. Não existem heróis nem vilões nessa estória. A vida não é uma novela da Globo. Está bem mais próxima de uma novela de Dostoiévski.
A carta que Wellington deixou tem um conteúdo metafisico religioso muito forte, próximo inclusive da psicologia dos personagens dostoeivskianos, enlameados numa viela sem saída em busca da pureza inexistente.
Perseguidos pelo fantasma da solidão.
Isolados e submersos no meio dessa fenda, náufragos num labirinto sem fim que espelha o próprio abismo cingido.
Impotentes diante das vozes que não silenciam.
Quem silencia somos nós diante do indecifrável.
Ódio mortal por aquilo que foge da lógica. Aquilo que não compreendemos.
Aquilo que está fora do alcance.
Como diria o Coronel Kurtz em "O Coração das Trevas":
"O horror. O Horror."
O horror somos nós.