terça-feira, 7 de maio de 2013

Para Ana C.

Hoje briguei com S. porque ele disse não gostar da Ana Cristina Cesar.
 "Poesia marginal dos anos 70, datada, poeta menor", arriscou.
 Ele, que não escreve mais nada.
 Ressenti. Quando dei por mim, perdia alguns dentes. Trinquei a mão na fechadura.
 Mas não me movi.
 Disse-lhe coisas terríveis.
 Mais amarga que café.
 Só não mordi seus dedos peludos em respeito ao meu tratamento de canal – recente e caríssimo. Três parcelas em cheques pré.
 Datado.
 Quando já havia esquecido ele retomava o assunto
 Porra!
Minha exaltação retórica se transformou em violência física.
Cinco anos de Kung Fu.
Ele saiu batendo a porta e ganindo alto.
 Desse jeito assim
 Não vai sobrar
Ninguém
Confessei segredos de vitrô pra primeira cigana que encontrei pela frente.
A estação da Sé estilhaçava promessas não cumpridas.
Um futuro abissal pela frente. Depois gargalhou do alto de seus oitenta anos e me tomou cinquenta reais.
A banguela ardia em brasas toda satisfeita. Sem créditos, voltei pra casa a pé. Profeta de araque. Dei uma esganadinha no gato assim que entrei. Em seguida, liguei para o disque-denúncia. (Alguém pode não gostar da Ana Cristina Cesar?) Cidade Cão.