terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O coração das trevas

"… a maioria dos marujos leva, por assim dizer, uma vida sedentária. Eles sempre se sentem em casa, pois sua casa sempre os acompanha - o navio; bem como seu país - o mar. Um navio é muito parecido com outro, e o mar é sempre o mesmo. Num ambiente imutável, os litorais estrangeiros, as fisionomias estrangeiras, a variada imensidão da vida - tudo passa imperceptível, velado não por um misterioso sentido, mas por uma ignorância levemente desdenhosa; pois não existe mistério para um homem do mar, a não ser o próprio mar, que é senhor de sua existência e inescrutável como o Destino. Quanto ao resto, nas suas horas de folga, uma caminhada casual, ou uma eventual bebedeira em terra bastam para revelar-lhe o segredo de todo um continente - e geralmente acha que o segredo não vale a pena ser conhecido. As histórias dos homens do mar têm uma simplicidade direta, cujo significado cabe inteiramente na casca de uma noz partida."

Joseph Conrad "O coração das trevas"

2 comentários:

Anónimo disse...

Os homens do mar passam a vida "em casa", sedentários, tudo parece o mesmo... mas eles ficam na duperfície.
Passantes há q navegam a vida inteira sem jamais mergulhar um palmo em nenhum mar, nem no mar de dentro de no mar de fora...

Anónimo disse...

Onde escrevi "duperfície" leia-se superfície.