sexta-feira, 10 de abril de 2009

Os Donos da Palavra

"Todo amigo é inimigo. Todo inimigo, amigo. O consabido como diria o Rosa."
Otto Lara Resende
Você pede uma mão e recebe uma cusparada. Glória é uma imitadora. Uma vil imitadora. É o que andam dizendo. Nada é dela. Nem o buraco do dentre. E sobre o buraco já escreveram tão bem Freud e todos os prosadores, poetas e filósofos da história. "Então, Glória meta o seu buraco no meio do..." Onde? Em outro buraco? Que seja. Meta-o em algum fosso e páre de escrever sobre ele. Pedir a mão? Clarice já pediu mil vezes, não peça. Bom, então também não posso falar sobre meus furúnculos, insônias e analgésicos, porque com certeza todos os narradores da existência já divagaram sobre isso.
Não. Não pode. Não leia mais nada, não sinta fome, não vomite. Pois quem não poderá objetar que o seu vômito tem a mesmíssima cor do excremento vizinho?
O dente extraído de Glória, não é dela. E sim, patrimônio histórico da Academia Brasileira de Letras. Não pode chorar, a não ser em outra língua. Não pode espiar os bolos Bauducos alheios a não ser em estilo arcaico e não pode experimentar a existência metafísica de Deus, por já ser assunto gasto.
Glória está de mãos atadas. Que assunto poderá abordar pelos próximos dias? Se é que haverá um próximo dia. No momento ela se debruça sobre a janela, agarrada ao Colomba Pascoal Maxi Muito Mais Chocolate. E se tivesse uma fogueira, saltaria lampeira - lampeira não pode usar, pois um autor muito conhecido, gosta muito da palavra - desculpe-me então, saltaria frenética sobre a fogueira das vaidades. E deixaria-se chamuscar como uma Joana D'Arc, martirizada pelas próprias palavras - que já possuem um dono: os irrepreensíveis vigilantes da literatura mundial.
Glória se jogou do vigésimo andar. Está morta.
Quem a matou?
Um amigo, cheio de boas intenções.
Ou a própria Faculdade de Letras.

2 comentários:

Anónimo disse...

Me poupe. Esse mala não sabe que os sentimentos e os temas são os mesmos desde sempre? Se ele descobrir um tema que ninguém escreveu sobre me fala. Pelo visto também não leu a citação do Drummond no inicio do blog. Ou leu e não entendeu. Analfabeto funcional, eu tenho preguiça.

Anónimo disse...

"As obras de arte são de uma solidão infinita: nada pior do que a crítica para as abordar. Apenas o amor pode captá-las, conservá-las, ser justo em relação a elas."
Rainer Rilke